​O sofrimento humano precisa ser acolhido em suas diversas facetas. Assim, trabalhar com os temas do luto perinatal e materno é um grande desafio devido ao envolvimento de questões pertinentes à lutos não reconhecidos em nossa sociedade.
Estudar os lutos não reconhecidos atrelados à maternidade, é algo que vem me mobilizando bastante. 
Depois de minha especialização em Gestalt-terapia (2013), a temática da maternidade começou a fazer parte da minha vida. Primeiramente ela veio na forma de um luto concreto, apesar de não reconhecido, pois sofri uma perda gestacional às 6 semanas de gestação, perda esta que me levou a trilhar um caminho bastante solitário e com muito pouco acolhimento. Foi neste momento que abri espaço para a maternidade e, quando ela aconteceu concretamente, um ano pós aborto, com o nascimento do Pedro, me deparei novamente com a solidão e o luto, desta vez um luto simbólico, pelos atravessamentos que precisei e ainda preciso fazer neste mundo materno e, assim, renunciar à muitos aspectos de minha vida pré-maternidade.
Com isso nasceu o desejo de me aprofundar nesses temas tão importantes para o cuidado da vida materna pois acredito que, para que tenhamos filhos saudáveis, tanto físico como psiquicamente, primeiro precisamos ter mães saudáveis e, para isso se faz necessário o cuidado com o cuidador no sentido de confirmar e acolher tantos sentimentos ambivalentes que podem ser devastadores na vida de uma mulher recém chegada à vida materna.
Assim, vejo como missão além da propagação do conhecimento acerca dessas temáticas, o acolhimento dessas pessoas que vivenciam os diversos lutos, simbólicos ou reais, na área da perinatalidade, maternidade e parentalidade, bem como a legitimação e asseguramento desse lugar tão difícil de se ocupar.
Deste modo, minha busca é estimular o aumento desse serviço para que, com o conhecimento propagado, tenhamos profissionais mais habilitados e assim, pessoas mais acolhidas em suas dores. Lembrando-nos sempre que essas dores podem ser vividas de maneira silenciosa, se assim escolhido por quem as passam mas, ao serem silenciadas pela falta de acolhimento ou pertencimento, esse processo de atravessamento tenderá a ser muito mais denso e espinhoso.